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Semanas santas de outrora - por Tomaz de Aquino Pires

  • Foto do escritor: Tomaz de Aquino
    Tomaz de Aquino
  • há 4 dias
  • 3 min de leitura

Os doze coroinhas representavam os apóstolos - Fotos: Arquivo/Casa da Memória Padre Gomes
Os doze coroinhas representavam os apóstolos - Fotos: Arquivo/Casa da Memória Padre Gomes

Nos anos 50, Padre Antônio Gomes ensaiava os coroinhas para que participassem dessas cerimônias, ensinando o seu significado, assim como, nas reuniões mensais, planejava com as associações religiosas as atividades, dividindo as atividades entre elas. Éramos muitos coroinhas. Nós chamávamos o padre de “Seu Vigário”. Tomávamos a sua bênção assim que o encontrávamos. Subíamos o altar, processionalmente, em fila dupla, diante do sacerdote, todos paramentados. As missas eram todas celebradas de manhã, com exceção das solenidades: Missa do Galo, da Passagem do Ano, da Quinta-Feira Santa e da Vigília Pascal. As famílias da antiga vila (centro) e os moradores das fazendas e sítios vinham com os filhos para tais solenidades. Muitos vinham de charretes e cabriolés e amarravam os animais nas frondosas árvores que contornavam o Largo da Igreja. Largo da Igreja era uma quadra mais alta. Jardim público, outra quadra mais baixa. Havia escadarias entre ambas. No Domingo de Ramos havia a procissão e bênção dos ramos de manhã. Os fiéis traziam ramos de palmeiras trançados artesanalmente e com eles enchiam toda a Igreja. À noite havia Via-Sacra pelas ruas centrais com a Procissão do Encontro do Senhor dos Passos. Encontrava-se com sua Mãe, Maria Santíssima. O 1º era grande andor com a imagem de Cristo carregando a cruz às costas trazido pela procissão dos homens saia da Matriz Centenária. Encontrava-se com sua Mãe, Nossa Senhora das Dores trazida pela procissão das mulheres e saía do Bairro Berlim, hoje ali é designado como Casarão Imperial. Era casa da Família de João Berne e de Lídia Bergamini.



O encontro acontecia no cruzamento das Ruas Cândido Bueno com Júlia Bueno. Os moradores forravam as ruas com folhas de mangueira formando um tapete para o Senhor dos Passos passar. Os fiéis acompanhavam com velas acesas. Dos janelões e das sacadas das casas desciam colchas de crochê e de finas rendas. Havia fios elétricos providenciados com hastes de madeira pregadas nos grossos batentes onde se penduravam lâmpadas incandescentes de 150 velas.

Forravam as calçadas com tapetes e com selecionados vasos e latas pintadas de 20 litros com viçosas samambaias, guembês, antúrios floridos... No percurso da Procissão em casarões ofertados pelos fiéis ficavam as 14 Estações da “Via Crucis”. Nelas as ornamentações se complementavam com altares, candelabros com velas acesas e o quadro da respectiva estação da Via Sacra. Quando se encontravam as duas procissões havia um púlpito e nele subia o pároco que proferia sermão sobre a Vida, Paixão e Morte de N.S. Jesus Cristo para a Redenção da humanidade. Na Quinta–Feira Santa, acontecia à noite, a Missa da Ceia Pascal, a Cerimônia do Lavapés, a instituição do sacerdócio e da Eucaristia. A Igreja apresentava-se toda iluminada e enfeitada com flores brancas.



Elevava-se o piso do altar com estrados de madeira, cobertos com tapetes vermelhos. Os doze coroinhas representavam os apóstolos e tinham os pés lavados e beijados pelo Padre Gomes imitando a Cristo na Última Ceia. Para as crianças um momento alegre era receber uma “rosca”, um pão doce redondo, cheiroso e quentinho, cuja massa amarelinha dissolvia na boca. D. Sílica (Cêlica) e Olívia Gottardo da padaria confeccionavam e embrulhavam em papel manteiga e enviavam, graciosamente, para a Igreja. Os coroinhas, doze apóstolos da Santa Ceia, voltavam alegres para casa. A Igreja permanecia aberta a noite toda onde a Eucaristia permanecia em adoração. Era colocada no mais belo e rico altar montado por D. Alda Voltan e equipe. Sua equipe preparava-o artisticamente durante três dias. A capela de São Sebastião era totalmente coberta por cetim, branco, e veludo vermelho com muitos castiçais antigos de prata e flores brancas. Durante a noite toda os homens do centro da Vila, permaneciam em Vigília, revezavam-se em guarda e oração com todos os senhores e moços das fazendas e sítios e de outros recantos do lugar. Padre Antônio abria e fechava a hora de guarda até a alta madrugada, quando se recolhia para ligeiro descanso. Seu Antônio Maia preparava e servia um cafezinho saboroso para o grupo que se despedia da Guarda de Honra ao Santíssimo Sacramento. A Igreja permanecia aberta a noite toda onde Cristo Eucarístico permanecia em adoração, abrindo o novo dia da Sexta-Feira da Paixão. A adoração, orações, cânticos continuavam até às 17 horas, momento do início das novas cerimônias. 


Tomaz de Aquino Pires, professor e coordenador da Casa da Memória Padre Gomes, de Jaguariúna.

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