Dificuldades fortalecem, facilidades acomodam - por Tomaz de Aquino
Dependendo do contexto em que interpretamos, as dificuldades educam e fortalecem, as dificuldades deseducam e enfraquecem. Lembro-me das aulas de História sobre a Grécia Antiga, quando cursava o Clássico (Ensino Médio-Humanas) nos anos 1960.
O prof. destacava as dificuldades extremas do ambiente em que se desenvolveu tal civilização. O país não era favorecido por nada. Quebravam pedras sob sol calcinante para viver. Não eram favorecidos pelo clima, muito menos pela vegetação. País acidentado, relevo dificultoso, faltavam rios. Clima que castigava na diversidade de temperatura.
Historiador latino dizia: Roma venceu a Grécia pelas ARMAS, mas foi vencida pelas ARTES. Diante de tantas dificuldades só pôde brotar ali uma civilização brilhante na Antiguidade Clássica, capaz de abater o maior império do mundo com maior tempo de duração - doze séculos. Abatida pelas ARMAS, Roma assimilou a cultura grega, foi a helenização. As ARTES GREGAS venceram!
Vejam o brilho da Literatura Grega nas epopeias de Homero : “Ilíada” e “Odisséia” e em outros gêneros literários. O quanto se produziu em termos filosóficos: uma filosofia perene: Sócrates, Platão, Aristóteles. Da dificuldade, da pobreza, da aspereza, brotou tão rica civilização.
Hoje a Casa da Memória recebeu visita de ex-aluno meu que veio buscar um exemplar da obra de Gilslaine Mathias “ Memórias de Jaguariúna”. Feliz, ao encontrar ainda um livro, lembrou-se de seu passado, quando menino, seus pais trabalhavam nas Fazendas N. Sra. das Graças e Meia Lua. Os meninos vinham, na carroceria do caminhão da fazenda para cursar o ginásio (5ª a 8ª do Fundamental). Dependiam de carona também para voltar lá pelos lados do Tanquinho Velho.
Este aluno hoje é advogado e seu irmão é médico. Venceram através do enfrentamento das dificuldades que surgiram. Naquela época, assim procedia a maioria das pessoas que queriam estudar. Em tempos precedentes, gerações mais antigas vinham cursar o primário a pé, andando quilômetros diários.
“Per áspera ad castra” diz a máxima latina, numa tradução não literal ensina que por caminhos tortuosos chegamos à vitória. Só na década de 1970 o Prefeito Santiago organizou transporte municipal para os estudantes da periferia da cidade, comprando peruas, alugando “Vans”.
A Assistente Social Bernadete Marin acompanhava os alunos, conferia assiduidade e suas notas, cobrando-lhes aplicação aos estudos. Ensinava-se!
Quando menino gostava de ler mensagens que vinham estampadas no pacote de açúcar “União”. Ele trazia texto de Abraão Lincoln. Uma delas dizia: “Não deverás fazer pelos outros, aquilo que eles podem e devem fazer por si mesmos”.
Outro ensinamento de tempo de adversidades que me surpreendeu foi contado numa história de hospedagem. Havia uma família pobre, humilde que havia perdido o que possuía com a seca. Pais e filhos não plantavam mais, porém ficaram apenas com uma vaquinha que lhe dava diariamente leite.
Deste produto viviam. Família temente a Deus, bondosa acolheu viajante que não encontrara hospedagem. Deu-lhe generosamente pouso e de sua simples comida. Ao sair o visitante consultou um sábio como deveria agradecer aquela família por tão significativo acolhimento de semana inteira. O sábio ouviu-o atentamente. E respondeu-lhe que a maior gratidão seria empurrar a vaquinha no precipício.
Após longo diálogo, o sábio convenceu o viajante a fazê-lo. Passado tempo, o viajante precisou passar pelo mesmo local. Visitou a família que o havia acolhido e estranhou as novas acomodações. A família enriquecera e contou-lhe que perdera a vaquinha, logo que o viajante havia deixado a casa. Sem renda alguma, todos puseram-se a cultivar desesperadamente a sua terra e fazê-la produzir fartamente.
O trabalho de todos reconquistou a riqueza perdida. Concluíram ao viajante o que o sábio lhes havia explicado. Ao passo que se recebessem graciosamente o leite diário da vaquinha continuariam acomodados, vegetando naquela situação de antanho.
A cesta básica pode ser útil apenas, momentaneamente, em alguma circunstância grave para família idosa, ou com pessoas enfermas, famintas, impedidas de trabalhar. Há que educar o povo! Hoje vimos pela mídia interessante lição vinda da Dinamarca. Lá toda pessoa que recebe algum tipo de ajuda social está inabilitada para votar.
Desta forma evita-se que auxílios perenes de auxílio inútil deseduquem, quebrem valores essenciais de uma família. Elas não devem transformar-se em clientelismo político para enfraquecer um povo.
Tomaz de Aquino Pires, professor e coordenador da Casa da Memória Padre Gomes, de Jaguariúna.
Comments