De escravizados a modernistas: a história pouco contada da Fazenda da Barra em Jaguariúna
- Redação

- 27 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de ago.

Às margens do rio Camanducaia, em Jaguariúna, ergue-se a imponente sede da Fazenda da Barra, um casarão que guarda não apenas a memória da cidade, mas também episódios marcantes da história paulista e brasileira.
O espaço foi parte de uma antiga sesmaria concedida ao coronel Luís Antônio de Souza e a Bernardo Guedes Barreto e, no século XIX, passou para o capitão José Guedes de Souza, o Barão de Pirapitingui.

Segundo registros preservados na Casa da Memória Padre Gomes, de Jaguariúna, a fazenda revela capítulos que vão do período do açúcar à expansão do café, sustentada inicialmente pelo trabalho de africanos escravizados e, depois, por imigrantes italianos. “Quatro colônias italianas se estabeleceram nessas terras, documentadas pela imprensa da época, como o jornal Fanfula, de São Paulo”, lembra o professor Tomaz de Aquino Pires, coordenador da instituição e autor de artigo onde relava dados ainda pouco divulgados sobre a fazenda.

A vida na Barra era marcada por festas, manifestações religiosas e uma intensa sociabilidade. A base de consulta desses registros são os jornais da época, como a A Comarca, de Mogi Mirim.
No final do século XIX, a fazenda ficou sob a responsabilidade de José Alves Guedes, filho do barão, que ganhou reconhecimento por sua atuação em prol dos lavradores e do então Distrito de Paz de Jaguary.
Entre os moradores ilustres da sede estão Dr. Alfredo Guedes e sua irmã Olívia Guedes Penteado. Alfredo formou-se em Direito no Largo São Francisco, foi deputado estadual, secretário da Agricultura de São Paulo e um dos articuladores da política de incentivo à imigração italiana, além de membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Já Olívia tornou-se um dos nomes mais relevantes da Semana de Arte Moderna de 1922. Conhecida como a “madrinha do Modernismo”, viveu parte da infância na Fazenda da Barra, onde recebeu formação com professores particulares. Mais tarde, já em Paris, manteve contato com artistas como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Villa-Lobos.
“Mário de Andrade chegou a visitar a Fazenda da Barra em retiro espiritual, antes de se aproximar definitivamente de Olívia no movimento modernista”, destaca Pires.
A fazendeira patrocinou artistas, abriu sua galeria para debates e deixou marcas profundas na cultura brasileira, inclusive trazendo da França obras modernistas, entre elas uma escultura de Victor Brecheret, que hoje repousa sobre seu túmulo no Cemitério da Consolação.

A Fazenda da Barra também foi palco de momentos políticos, como o engajamento de Olívia na Revolução Constitucionalista de 1932, quando chegou a discursar em rádio incentivando os paulistas a se unirem à luta.
Com tantas camadas históricas, a sede e seu complexo arquitetônico tornaram-se um patrimônio de grande relevância.
“O conhecimento dessa trajetória reforça a necessidade de preservar e restaurar a Fazenda da Barra. Ela não é apenas parte da memória de Jaguariúna, mas um capítulo importante da identidade paulista e brasileira”, defende o professor Tomaz. O texto acima foi baseado em um artigo do professor Tomaz A. Pires. As fotografias foram selecionadas por Josí Rosana Panini








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