Isto é meu corpo! Isto é meu sangue! Memórias da festa do Corpo de Deus - por Tomaz de Aquino Pires
- Tomaz de Aquino
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Estamos diante da solenidade da Festa da Sagrada Eucaristia, sacramento instituído por N. Senhor Jesus Cristo na última ceia com os 12 apóstolos. É a presença real do corpo e do sangue do Redentor do mundo sob as espécies do pão e do vinho. A Igreja comemora após 60 dias da Páscoa, na quinta-feira, após o domingo da SS Trindade. É a Festa do Corpo de Deus, designada na língua oficial da Santa Igreja, o Latim, como “CORPUS CHRISTI”. A origem da comemoração remonta a1243, quando a freira belga de Liège, Juliana de Cornion, em oração, teve visões de Jesus Cristo, que apontava não haver festas para honrar tão grande sacramento: Aquele em que ELE está presente ao nosso lado e se faz alimento, o Pão da Vida, o Pão do Céu, para nos dar forças e continuar. O Papa Urbano IV consagrou a festa para toda a Igreja, no século XIII, em 1264. Para tão grande festa da SS Eucaristia, centro da vivência católico-Cristã, Padre Gomes (1947-1990) planejava junto às irmandades paroquiais a comemoração solene em honra ao Corpo de Deus.

Procissão de Corpus Christi. À frente Anjo: Cidinha Voltan, Ézio Godoy, Nelsinho Benedito, Aristeu Abrucês, Plínio Parisio. Carrega o pálio, a irmandade do Santissímo Sacramento: Alonso José de Almeida, Reinaldo Chiavegato e Rafael Luporini. Atrás: Carlos Turato e Pe. Gomes levando a Eucaristia, 1950.
Eram seis associações religiosas que se preparavam com seus trajes próprios e insígnias ao colo. Senhoras e moças com mantilhas e véus brancos e meninas, boinas. Senhores, jovens e meninos com as respectivas insígnias e ternos. Coroinhas preparavam batinas alvejadas e engomadas. Famílias doavam as melhores flores naturais para o altar-mor para esta solenidade. Padre Gomes queria o altar ornamentado com o Pavilhão Nacional, a Bandeira Paulista e a Bandeira do Vaticano, tudo para celebrar tão grande festa. É o próprio Cristo Vivo, presente na Eucaristia, que caminha pelas ruas. É a única procissão litúrgica da Igreja.

Procissão de Corpus Christi. Passando pela Rua Cândido Bueno, Carmem Tereza Luporini vestida de Anjo, meninas da Cruzada Eucarística, à direita, Joaquim Pires Sobrinho, Regina Chiavegato vestida de Filha de Maria. Atrás: Alda Voltan Santos e Bruna Masotti de Almeida, início da década de 1950. Os pais cuidavam para que seus filhos vestissem o melhor terno: “casemira inglesa” ou a melhor calça social com paletó e gravata para acompanhar esta procissão. E assim, desde sempre, o Brasil e o mundo dobram, solenemente, os joelhos para Jesus na Eucaristia. Genuflexão simples diante do sacrário e dupla, quando a Eucaristia estiver exposta no ostensório.
As famílias nas calçadas que assistem à procissão, fazem genuflexão dupla na passagem da Eucaristia. Solenidade sempre muito bem organizada. No final do cortejo, ao centro, vinham muitas meninas vestidas como Anjos, com ricas camisolas de cetim brilhante e demais ornamentos na cabeça. Em seguida, os coroinhas, o maior deles balançava o turíbulo cheio de brasas ardentes.

Procissão de Corpus Christi. Presença da Congregação Mariana. Identificados: Antônio Mathias de Oliveira, Toné Chiavegato e seu filho Clovis, Bepin Dal’Bó, Toninho Roldão e Brás Pinto Catão, década de 1950.
Eram buscadas no fogão a lenha, na casa de D. Regina Mantovani, hoje Edifício Umberto Mantovani. Outro levava o incenso. Outro, as campainhas. O grupo perfilava-se diante do Pálio. Este era sustentado por quatro senhores, Irmãos do SS Sacramento.
Nas laterais as lanternas com velas acesas. Sob o Pálio, Padre Gomes devidamente paramentado, segurava o ostensório com Jesus na Eucaristia. As ruas de paralelepípedo e de terra eram cobertas com folhas de mangueira que serviam como tapetes.
As calçadas, as casas e casarões do centro histórico eram decorados com vasos e plantas, colchas brancas de linho, muito bem trabalhadas por artísticos bordados, alguns deles importados. Faziam altares nos janelões com castiçais e velas e flores. Nas calçadas vasos e latas pintadas de 20 litros com samambaias, antúrios e guembês.
Faixas de tecido de algodão cru eram amarradas entre os altos postes de ferro de energia elétrica, com os dizeres em latim, língua oficial e universal da Igreja Católica: “Christus vincit, Christus regnat , Christus imperat!”.

Pe. Gomes celebrando a missa de Corpus Christi, entre os ministros da eucaristia: Geraldo Sisti e Augusto Lana. Ao fundo bandeiras do Brasil e de S. Paulo, década 1980.
As sarjetas de toda a Praça Umbelina Bueno, por entre seus paralelepípedos eram muito bem fincadas bambuíras. Todas elas eram enfeitadas com bandeirinhas coloridas feitas, em casa, pelos fiéis, coladas com cola caseira de farinha de trigo e coladas em barbante.
Elas circundavam todo o Largo da Igreja. ... Houve ano em que as paredes das casas foram decoradas com festões, montados com papel crepom amarelo e branco, em sanfoninhas, eram entrelaçados, conectados por barbante interno subindo e descendo em arcos nas fachadas frontais.
Mais tarde passaram a decorar artisticamente o centro das ruas com tapete elaborado, com pó de café, serragem tingida, areia, tampinhas de garrafas revestidas de papel alumínio formando desenhos eucarísticos: ramos de trigo, cachos de uva, pão, cálice, imagem de Cristo, cruz...Trabalho realizado desde a noite anterior por várias equipes em trabalhos diversos pelos quarteirões onde passava a procissão .

Praça Umbelina Bueno, lado direito. Rua decorada pelos fiéis para a Procissão de Corpus Christi, 2002.

📷 -Todas as fotografias publicadas nesse texto foram selecionadas por Josí Rosana Panini: especialista em gestão de documentos históricos e preservação de acervos textuais, fotográficos e iconográfico da Casa da Memória Pe. Gomes, de Jaguariúna-SP.
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