Acervo com mais de 5 mil fitas K7 coloca Bazeio entre os maiores colecionadores do Brasil
Atualizado: 14 de fev.
No mundo dominado pelos streamings musicais, existe um apaixonado por música analógica que há mais de 40 anos vem criando suas playlists utilizando os botões rec, stop e play. Tanto tempo de dedicação, investimentos e horas de gravações faz de Celso Bazeio, morador de Jaguariúna, um dos maiores colecionadores de fitas cassete do Brasil, e talvez no mundo.
O aposentado de 74 anos conserva um verdadeiro ‘santuário’ com mais de 5,1 mil fitas K7 todas em perfeito funcionamento, e centenas delas consideradas raridades “sem valor financeiro”, segundo ele.
Muitos exemplares são originais, ainda com a fita magnética e encarte intactos. Para milhares de outras fitas, Bazeio utilizou seus conservados aparelhos 3 em 1 para gravar músicas e programas de rádios. E segue no ofício de gravá-las até hoje. “Ainda tenho mais 300 fitas para catalogar”, orgulha-se.
As cassetes, de 30, 60 e 90 minutos de duração, febre nos anos 1980 e 90, tornaram-se objeto de colecionador a partir do momento em que o CD entrou como protagonista da cena musical.
Muitos já não têm nem mesmo o aparelho com tocador de fitas hoje em dia. E os saudosos das pequenas caixinhas de plástico, que por sorte encontrar algum exemplar do artista preferido à venda pela internet, poderá pagar entre R$ 60 e R$ 300 cada fita.
“Eu frequentei muitas feiras do rolo. Foi assim que eu consegui muitas fitas que são consideradas raras. Hoje em dia, nem mesmo nessas feiras são vendidas. Está acabando. Nos sebos também está se tornando cada vez mais difícil de encontrar”, disse Bazeio.
DEDICAÇÃO DIÁRIA
A ‘era do cassete’ definitivamente estacionou naquele cômodo de 3X2 metros - meticulosamente organizado e com todas as produções catalogadas. É lá que há 23 anos, desde que se mudou de Pedreira para Jaguariúna, Celso se dedica no conserto, limpeza e gravações durante seis horas diárias.
“Sou aposentado há muitos anos. E em breve me aposento novamente dessa minha ‘profissão’ por tempo de serviço dedicado à música”. Mesmo em tom de brincadeira, o ex-gráfico mostra os efeitos na coluna de tanto ficar debruçado em K7 e toca fitas antigos. Mas música lenta e acupuntura, segundo ele, são os remédios que têm dado efeito.
Do rodapé ao teto, algumas fitas carregam um adesivo azul na capa de plástico, e o aposentado explica que foram produções ouvidas de ponta a ponta, ou melhor, os lados A e B. “São aquelas que gostei e fui ouvindo até a acabar”.
Além disso, em compartimentos quase secretos no pequeno cômodo, Bazeio guarda caixas onde estão acondicionadas fitas extremamente raras. “Sou capaz de afirmar que nem mesmo os artistas tem esses formatos”. Como uma produção de Peppino di Capri gravada na Itália, uma outra de Angela Maria e Agnaldo Timóteo, além de clássicos de Jhonny Rivers.
TAPES E CDS
Além das cassetes, em outra parede do cômodo uma estante suporta 156 toca fitas automotivos, todos a pleno vapor. Dentre esses aparelhos, destaque para três exemplares diferentes de um toca fitas “Roadstar”, original dos carros Puma, entre 1974 e 1983.
Também tem um Mitsubishi eletrônico, de 1975, que buscava a estação de rádio sozinho - luxo na época.
Enquanto mostra suas peças raras, como os 29 radinhos de campo de futebol, um adesivo atrás da porta chamou a atenção da reportagem pela quantidade de números em sequência. O último deles era o 5.832.
“Essa é a quantidade de CDs que tenho catalogado”. Sim, Bazeio também se atualizou, e passou a transferir muitas músicas dos K7s para a nova mídia. Nada foi baixado da internet, garante. “Todo o processo manual vem de muitos anos”.
HISTÓRIA NA MÚSICA
Bazeio, ou ‘Cipó’ para os mais chegados, desde os 16 anos tem a música entrelaçada no seu cotidiano. Nascido em Arcadas, um distrito de Amparo, começou bem cedo a tocar músicas nos bailinhos do Bandeirantes Atlético Clube.
O pai, dono de três fábricas de cerâmica, dava condições financeiras para o filho investir em equipamentos de som e carros, de onde vieram os primeiros toca fitas da coleção.
“Eu levava ele e os amigos dele para beberem em um restaurante de Campinas, e ia comprar na antiga Casa Eduardo, na Beijamin Constant, fitas e discos”, recorda.
Bazeio se profissionalizou como gráfico, e durante anos trabalhou no conserto de máquinas de linotipo dos principais jornais da região de Campinas. No entanto, a profissão lhe custou um lado dos pulmões de tanto inalar chumbo.
Ele recebeu toda profissionalização da extinta TV Tupi. De lá, conseguiu raras gravações de um dos “apresentadores de rádio mais inteligentes e criativos do Brasil”, Hélio Ribeiro.
“Todo o material ia para o lixo quando a TV fechou. Tive a autorização para levar o que conseguisse. Então peguei minha Brasília 1976 e fiz três viagens de Pedreira para São Paulo para trazer câmeras, aparelhos de som, gravações”, relembra.
Dos três filhos, nenhum se interessa pelo acervo do pai. E sem cogitar vender qualquer título daquelas estantes, Bazeio promete seguir colecionando e conservando raridades.
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