História de casal se entrelaça aos 50 anos da Cavalaria Antoniana de Jaguariúna
- Gustavo Santos
- há 13 horas
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A cidade de Jaguariúna celebra nesse fim de semana os 50 anos da Cavalaria Antoniana. O tradicional evento que resgata a fé e a cultura local terá uma programação com shows e o esperado desfile pelas ruas centrais. Centenas de cavaleiros e amazonas farão, no domingo (15), um trajeto em direção ao Centro Cultural, na conhecida estação da Maria Fumaça.
Todos os anos a Cavalaria atrai turistas e participantes de cidades vizinhas e do Sul de Minas. A tradição mantida há meio século já passou por algumas transformações, como datas e trajetos. A principal delas, nesse ano, é a volta do desfile na Avenida Marginal, em frente a estação da Maria Fumaça (veja programação abaixo).
A cavalaria carrega 50 anos de história, e também se entrelaça com a vida de muitos cavaleiros, como a de Nilton Queiroz. Aos 72 anos, ele e outra dezena de precursores, como Neguita Torres (locutor do evento há 20 anos) e Cláudio Bertazzo (Tio Cláudio), vivem o mundo do cavalo na alma, e seguem há anos na organização do evento.
É com a mula Simpatia, de índole mansa e companheira de longa data, que na manhã de domingo Nilton irá puxar a cavalaria carregando uma bandeira na comitiva de frente, como sempre faz.

Além da foto onde ele aparece montado em Simpatia, outras centenas de lembranças da cavalaria, do próprio Rodeio de Jaguariúna e das longas cavalgadas até o Santuário Nacional de Aparecida do Norte integram o arquivo de memórias da família Queiroz.
Na última quinta-feira (12), Dia dos Namorados, ele e sua esposa Sueli Fernandes Queiroz, 67, gentilmente receberam a reportagem para contarem um pouco dessa trajetória de cavalgadas, dedicação a eventos tradicionais de Jaguariúna e histórias de um matrimônio que também beira Bodas de Ouro.
“Nessa foto, eu tinha 12 anos”, disse Nilton, ao mostrar um porta-retratos com uma imagem em preto e branco, dele em cima de um cavalo. Aquela imagem traduz uma época em que Jaguariúna se resumia a ruas centrais, a Matriz, e os entretenimentos ligados ao calendário do catolicismo.

A ampla residência da família, em uma movimentada avenida, também revela a paixão pelo mundo do cavalo. O terreno preserva antigas cocheiras para abrigar os animais, principalmente em épocas de cavalgadas.
“No domingo a turma de muladeiros vai tomar um café aqui em casa”, aponta para um amplo salão. Há mais de uma década Nilton faz parte da Associação de Muladeiros de Valinhos, e toda a comitiva também prestigia a Antoniana.
“A importância dessa tradição é também pelo reencontro com os amigos, com aquelas pessoas que mantém a tradição, e de todos que reconhecem importância e prestigiam esse evento do nosso calendário”, considera.

A Cavalaria Antoniana foi originalmente fundada por Anísio Geraldo de Aguiar (falecido em 2019, aos 86 anos). Ferreiro e amansador de cavalo, a devoção de Anísio por Santo Antônio surgiu após o seu reencontro com uma égua chamada Cabana.
Depois de vender o animal na década de 1960, Anísio se arrependeu, fez promessa para reencontra-la, e anos mais tarde recuperou a égua Cabana, ao reconhece-la pastando no bairro Roseira, em Jaguariúna. A promessa foi paga com uma cavalgada carregando a imagem de Santo Antônio durante o trajeto.
Quando nasce o amor e o Rodeio
Nilton também é um dos fundadores do Rodeio de Jaguariúna, há 35 anos. Juntamente com tantos nomes importantes do evento, trabalhou pelo crescimento gradual de um dos maiores eventos do Brasil.
“Esse chapéu preto é do tempo em que a gente fazia a abertura do rodeio. Todos que eram da organização usavam. Ainda carrego minha santinha aqui dentro”, mostra o cavaleiro, que chegou ao posto de vice-presidente do evento.

Ao lado de Nilton, está Sueli — esposa, companheira de vida e mãe de Ana Paula, Taís Helena e Nilton Júnior. A trajetória do casal se entrelaça com a própria história de crescimento da cidade. Eles se conheceram ainda jovens, vizinhos de ruas próximas. “Nossas famílias eram amigas. E eu fiquei de olho nela”, relembra Nilton, com um sorriso ao encarar Sueli.
O namoro durou sete anos, em tempos em que o lazer girava em torno da praça da igreja, do cinema local e do parque de diversões.

Vendo as fotos de casamento, lembram da festa no salão paroquial, do religioso Padre Gomes, das roupas e de um episódio doloroso. Nilton trabalhava no descarregamento de lenhas de um caminhão, na véspera do matrimônio, quando um dos troncos caiu em seu pé.
O inchaço e a dor no dedão quase não cabiam no sapato, ainda mais quando um familiar pisou sem querer no machucado. “Chegamos no primeiro dia na nossa casinha, e a dor era tanta que de madrugada fui ao pronto-socorro tirar a unha”.
Dos filhos vieram quatro netos, e todos muito presente na vida dos avós. “A nova geração da família é mais do beach tennis. Mas a tradição segue viva na lembrança de todos aqui em casa”.

PROGRAMAÇÃO DA CAVALARIA
Neste sábado (14), a programação parte da Cavalaria Antoniana começa, a partir das 18h, no Parque Santa Maria. O local será palco para os shows de Isaac Santana e da dupla Henrique e Diego.
A grande cavalgada acontece a partir das 10h do domingo (15). Os cavaleiros vão se concentrar na Avenida Maranhão e de lá seguir em direção ao Centro Cultural. As autoridades pedem atenção dos motoristas durante o trajeto na região central.
No Centro Cultural cavaleiros serão recebidos com o desfile dos alunos das escolas municipais e receberão a bênção do padre, seguindo então em direção ao Parque Santa Maria –local terá atrações musicais a partir das 13h.
Fotos: Arquivo Casa da Memória
Seleção: Josi Panini
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