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Memórias da mãe em nossa infância - por Tomaz de Aquino Pires

  • Foto do escritor: Tomaz de Aquino
    Tomaz de Aquino
  • 11 de mai.
  • 3 min de leitura

Foto: Universo Retro/Divulgação
Foto: Universo Retro/Divulgação

Mãe é a única fonte de amor incondicional que o humano possui. Mãe é doação plena de vida aos seres que Ela gera, porque é a autêntica canalização do amor infinito de um Deus em seu zelo diário pelos filhos.


Minha Mãe, Tarsila Ferrari Pires, doce criatura, foi minha primeira contadora de histórias. Contava-me de seu trabalho em minha alimentação. Nasci na sede da Fazenda Florianópolis.


A fim de que engolisse algumas colheres de “papa”, saia comigo pelo pomar, mostrando os pássaros. Num de seus braços, carregava a mim e o prato. No outro, com a colher em punho, apontava-me os encantos da natureza. Sem que notasse, ingeria um mínimo da comida preparada.


Numa tardinha, quando comecei a andar, fugi pelo quintal do casarão. As brasas ardentes do fogão eram recolhidas em um balde no fundo do quintal. O cachorro “Jagunço” veio e esparramou-as por todo o caminho.


O bebê fugitivo explorou aquele trecho de quintal pisou as brasas e ficou com a sola do pé grudada nas mesmas. Meus gritos de dor trouxeram o socorro materno que ao levantar-me, toda a pele do pé esquerdo já se encontrava pendurada. Trouxeram-me de charrete para a farmácia Santa Maria de Tio Mansur Cordeiro, aqui na Vila.


Ela passou quinze noites, em claro, comigo em seu colo. Atrozes dores impeliam-me a morder seus ombros. Os curativos eram diários e exigiam que não se tocasse em qualquer superfície. À medida que se reconstituía a pele da planta do pé os dedos iam grudando-se. Durante os curativos o farmacêutico, com a tesoura ia separando-os novamente. Mãe das noites em claro!


Uma noitinha, sem que ela percebesse, adentrei o chiqueiro e fui mexer com o cachaço. Ele cravou sua dentuça em minha coxa. Saí pulando assustado do local. Minha mãe curou, em casa, o furo na coxa. Esta outra cicatriz ficou também na memória. Nos anos seguintes meu Pai, Francisco de Sales Pires, comprou um caminhão “BD Ford” para entrega dos tijolos que produzia na Olaria do alto Florianópolis.


Mandou construir ao lado da sede uma garagem muito alta para guardá-lo. Para escalar tal altura eu subia no alto muro de taipa de pilão, relíquia da construção dos negros escravos. Dali alcançava o beiral do telhado francês e não foi difícil andar equilibrando-me em sua cumeeira.


O susto de minha Mãe foi tamanho que com um só grito eu desci de pronto, prometendo-lhe não subir mais ali, embora soubesse escalar altas mangueiras pelos galhos que se envergavam ao chão. Lá no pomar havia a deliciosa manga Rosa. Certa feita voltando com os braços cheios da preciosa fruta, ao abrir o portão do pomar, um urutu de pronto enrodilhou-se para dar o bote em mim.


Já havia dado o impulso para saltar, não dava mais para recuar. Fui mais rápido que ele. Pulei e gritei por minha mãe denunciando a cobra. Ela interrompeu seu banho, ao me ouvir. Tinha pavor de cobra! Muito assustada com um pedaço de bambu enfrentou a perigosa fera com acertada pancada em sua espinha, matando de pronto com várias pancadas quem ameaçara seu filho.


Mãe dos sustos!  Em outra ocasião fui a um grande churrasco de casamento em sítio vizinho. Festa de arromba com churrasco, músicos e baile. Deixei meus pais na festa, preferi apanhar mangas vermelhinhas. Apedrejei uma mangueira.


Acertei em cheio um balão de abelhas que atacaram de pronto a mim e a garotada acompanhante. Na fuga, ao pular a porteira, fiquei pendurado em um gancho. Ele foi rasgando as calças e eu caí batendo o rosto no chão e com a cabeça cravejada de abelhas.


Minha Mãe trancou-me no banheiro da casa, enquanto com linha e agulha fechava minhas calças, que não mostrasse meus documentos.


Torcia-me beliscões que doíam concomitantemente com às ferroadas das abelhas, ouvindo, atordoado, um fundo musical do baile. Eu havia perdido o apetite! Naquela época não havia contraceptivo e ela dizia-me que se arrepiava ao pensar que poderia engravidar-se novamente de outro moleque travesso. 


Fui seu 4º filho. Antes de mim, ela havia enfrentado incidentes similares com meus três irmãos envolvendo coices de animais, escorpiões, quedas, desmaios, inclusive, às vésperas do seu 3º parto. Felizmente, no 5º parto, já na cidade, veio uma princesa que abrandou os sustos anteriores de infância de moleques, em fazenda.


Aqui abordei alguns sustos maternos só da Infância em homenagem a Ela.  Por isso dizem “ser mãe é sofrer no paraíso”. Só Deus de infinita misericórdia pode recompensar as Mães. Muito Obrigado, Mãe! Parabéns pelo seu dia! 



Tomaz de Aquino Pires, professor e coordenador da Casa da Memória Padre Gomes, de Jaguariúna.



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