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Foto do escritorGustavo Santos

Jaguariúna não pleiteia soro antiescorpiônico, mesmo com óbito e infestação

Atualizado: 21 de nov.

A morte de uma criança de três anos em decorrência da picada de um escorpião, em Jaguariúna, levantou questionamentos ao logo das últimas semanas sobre a ausência de soro antiescorpiônico no Hospital Municipal Dr. Walter Ferrari.


A unidade é referência em atendimento a moradores de pelo menos quatro cidades vizinhas, mas encaminha pacientes acidentados com animais peçonhentos para hospitais a mais de 30 minutos de distância.


A reportagem questionou as secretarias de Saúde, tanto a Municipal como a Estadual, e, além de respostas genéricas, ambas não trouxeram a perspectiva de fornecer (no caso do Estado), ou de pleitear, por parte da Prefeitura, soro antiescorpiônico diante do ocorrido no último dia 2 de novembro.

Jaguariúna e seu entono são permeados de sítios, chácaras e a cidade é banhada por três rios, o que torna a região quente e úmida no verão – propícia para a procriação de escorpiões. De maio a agosto, segundo os dados mais recentes apresentados em uma audiência pública de Saúde, o município registrou nove acidentes com animais peçonhentos. No mesmo período do ano passado foram 15 registros.


A Prefeitura de Jaguariúna, por meio de nota, explicou que segue os procedimentos estabelecidos pelo Estado e que, “em caso de necessidade, o município acionará a SES (Secretaria Estadual de Saúde) para garantir o atendimento adequado”.


No entanto, a pasta municipal não informou se fez alguma solicitação diante do trágico caso da criança de 3 anos morta pela picada.


“A Secretaria de Saúde de Jaguariúna esclarece que, conforme protocolos técnicos estabelecidos pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP), a distribuição de soros antiescorpião é de competência estadual. O fornecimento e a distribuição dos soros seguem regras e fluxos determinados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), não sendo uma decisão ou governabilidade dos municípios”, justificou.

Além do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp – para onde Arthur Morais Carvalho Nascimento foi levado após dar entrada no hospital de Jaguariúna e ser transferido – as unidades de saúde mais próximas que possuem esse tipo de soro específico são em Amparo (Santa Casa Anna Cintra), Mogi Mirim (UPA Zona Leste), Mogi Guaçu (Santa Casa de Misericórdia) e no hospital municipal de Itapira.


Essas três últimas cidades estão com as unidades de saúde próximas umas das outras e a mais de 30 minutos de Jaguariúna.


“Me pergunto por que não tem soro em Jaguariúna. Uma área muito quente, como que não tem um soro em um hospital pequeno para atender um município e ter que correr para Campinas?”, questionou a mãe de Arthur, logo após o ocorrido.

Da chegada ao hospital de Jaguariúna até Arthur receber o soro no HC da Unicamp se passaram duas horas. Ou seja, extrapolou em 30 minutos o que preconiza a própria secretaria estadual. Crianças de até 10 anos precisam de atendimento em até 1h30 do momento em que ocorre o acidente com escorpião, explicou o Estado em nota.


Questionada sobre a possibilidade de Jaguariúna entrar no rol de municípios que ministram soro antiescorpiônico, a resposta oficial da SES foi lacônica:


“A Secretaria de Estado da Saúde informa que, em caso de acidente com animais peçonhentos no estado de São Paulo, a população deve procurar o serviço de saúde mais próximo de sua residência, para que possa receber o tratamento adequado o mais rápido possível.


Atualmente, existem 221 Pontos Estratégicos de Soro Antiveneno (PESAs) para atendimento aos acidentados por animais peçonhentos em todo o estado de São Paulo. As unidades foram distribuídas estrategicamente com o objetivo de reduzir o tempo entre a picada e o atendimento/tratamento do acidentado, pensando principalmente no socorro às crianças de até 10 anos.”


AUMENTO NO CASOS


Em 2024, o número de acidentes com escorpiões na região administrada pelo Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de Campinas foi de 2.441 casos até o momento, com dois óbitos.


O alerta emitido pelas autoridades em saúde é para o risco de aparecimento desse animal peçonhento principalmente no verão.


Dados do Ministério da Saúde mostram que pelo menos 202.324 notificações de acidentes com escorpiões foram registradas no país ao longo do ano passado – 20.243 a mais que o total registrado no ano anterior. Esta é a primeira vez que o total de notificações passa de 200 mil.

O número de mortes provocadas por picadas de escorpião também aumentou, passando de 92 em 2022 para 134 no ano passado. As mortes provocadas por acidentes com escorpião ultrapassaram até mesmo os óbitos causados por picadas de serpente que, no ano passado, totalizaram 133.

 

AOS MONTES

Em Jaguariúna, moradores de diversos bairros relatam o aparecimento de escorpiões dentro de casa. A situação está agravada diante da falta de dedetização em mais de 3 mil poços de visita de bueiros esse ano. A empresa que venceu licitação em setembro não apareceu no município para a aplicação de veneno, e a Prefeitura deve rescindir o contrato.


Com isso, bairros como o Roseira de Cima, às margens da Rodovia Adhemar de Barros (SP-340), sofrem com a infestação desses animais. Essa semana, uma única moradora (que preferiu não se identificar) encontrou dez escorpiões na varanda de casa. Segundo ela, alguns deles foram vistos saindo de um bueiro.

Já para a moradora Simone Lemos, de 36 anos, mãe de quatro crianças de 1 a 8 anos, a preocupação é em geral no bairro Roseira. Todas as noites ela sai a “caça” de escorpiões com uma ‘luz negra’ para vasculhar atrás de vasos, próximo ao portão.



Com essa técnica ela já conseguiu capturar alguns animais escondidos atrás de vasos, ou andando na varanda. Os escorpiões possuem moléculas no seu casco que ficam fluorescentes quando iluminadas com luz ultravioleta.

“Com criança pequena a atenção tem que ser redobrada. No final de outubro capturei quatro aqui na varanda. E se um desses pica uma das minhas filhas?”, questiona Simone. “Por isso temos o cuidado de deixar tudo limpo para evitar ao máximo que eles apareçam”, reforça.

 

Principais orientações para evitar acidentes com escorpiões:

– Manter jardins e quintais limpos, evitando o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção nas proximidades das casas;

– Limpar periodicamente os terrenos baldios deixando uma faixa de pelo menos dois metros junto às casas;

– Sacudir roupas e sapatos antes de usá-los, pois aranhas e escorpiões podem se esconder neles e picam ao serem comprimidos contra o corpo;

– Não pôr as mãos em buracos, entulhos, sob pedras e troncos podres;

– Usar calçados e luvas de raspas de couro para atividades em que seja preciso colocar a mão e pisar em buracos, entulhos e pedras;

– Usar telas em ralos do chão, pias ou tanques;

– Usar telas nas janelas e vedar a abertura entre o chão e a porta;

– Vedar interruptores, tomadas, furo para luminária/lâmpadas no teto, frestas, buracos em paredes, assoalhos, vãos entre o forro e as paredes, consertar rodapés despregados;

– Acondicionar lixo domiciliar em sacos plásticos ou outros recipientes que possam ser mantidos fechados, para evitar roedores, baratas, moscas ou outros insetos que servem de alimento para animais peçonhentos.

 

Em complemento à nota, a secretaria estadual informou que os pontos de atendimento soroterápico podem ser acessados através de um mapa interativo on-line com as informações necessárias para buscar ajuda em emergências. As unidades de referência e a ferramenta estão disponíveis em: https://cievs.saude.sp.gov.br/soro/.

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