top of page

Carta inédita de 1932 revela ocupação da Fazenda Santa Úrsula por tropas de Getúlio Vargas

  • Foto do escritor: Gustavo Santos
    Gustavo Santos
  • 4 de jul.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 5 de jul.

Sede da fazenda Santa Úrsula, palco de hospedagens importantes ao longo da história - Fotos: Gustavo Santos/O Jaguar
Sede da fazenda Santa Úrsula, palco de hospedagens importantes ao longo da história - Fotos: Gustavo Santos/O Jaguar

Guardada a vista, mas jamais publicada em livros de história, uma carta datada de setembro de 1932 revela aspectos de como foram os capítulos finais da Revolução Constitucionalista. O documento fica em exposição na entrada da sede da bicentenária Fazenda Santa Úrsula, em Jaguariúna, e é assinado por soldados do Exército do Rio de Janeiro, que avançavam pelo interior de São Paulo.


A histórica propriedade, que já abrigou personalidades históricas como Rui Barbosa e o imperador Dom Pedro II, também serviu de estadia para tenentes das tropas de Getúlio Vargas, no período em que se intensificavam o cerco à cidade de Campinas, a um mês da rendição dos paulistas.


Além do manuscrito original, integram ao pequeno acervo de peças da época, armamentos, utensílios de guerra e objetos pessoais também das Forças Paulistas. A historiadora e memorialista de Jaguariúna, Maria Abigail Nogueira Moraes Ziggiatti, é uma das responsáveis pela preservação desse patrimônio histórico.

A historiadora Abigail Nogueira preserva cópias do manuscrito de 1932
A historiadora Abigail Nogueira preserva cópias do manuscrito de 1932

A Fazenda Santa Úrsula é a única propriedade em Jaguariúna que permanece sob a posse da mesma família desde sua fundação. Esse é um dos motivos para que o imenso casarão com mais de 30 cômodos, preserve com afeto e cuidado constante aos utensílios ali mantidos. A família Nogueira está em sua 9ª geração.


“Minha avó Úrsula foi alertada a deixar a fazenda por conta dos bombardeios que ocorriam naqueles dias. Um dos administradores do local orientou a família a guardarem objetos de valor no sótão e viajar para São Paulo com aos filhos”.


A chegada dos soldados da tropa getulista foi cordial, sem que houvesse saques ou móveis quebrados, relata também a historiadora. Dentre os três homens que assinam a carta de agradecimento, estava um engenheiro do Ministério da Fazenda em missão com o exército carioca, um tenente de nome Pedro Álvares e outro militar chamado Ayes Barroso.


Uma das únicas coisas que a família de Celso Camargo Moares sentiu falta foi um baú com roupas infantis, dos filhos do casal. Relatado à época por quem permaneceu com os militares na fazenda, a justificativa para levar tais pequenas peças seria para “mostrar às esposas cariocas”. Talvez, sim, preparar o enxoval dos casais.


Ao final do texto, os militares deixam um número telefônico e um endereço no Rio, mas nunca mais houve qualquer contato após o período de lutas. A carta de agradecimento foi escrita no dia 28 de setembro – um dia antes da chegada do navio alemão General Osório, trazendo da Europa material bélico para reequipar as tropas do governo federal. O cerco se fechava sobre São Paulo.

Carta foi emoldurada e transcrição feita pela historiadora
Carta foi emoldurada e transcrição feita pela historiadora

A Carta


Ilustríssimo Sr. Celso Camargo Moraes.


Assim como a ordem e o conforto reinantes nesta fazenda, a tornam em residência de distinção de seus proprietários. Os meus sentimentos pela luta inglória em que se debatem próprios irmãos, vertendo generoso sangue brasileiro.

Lamentando sinceramente que a visita seja em ocasião tão imprópria, levanto meus votos ao Altíssimo para que desça novamente a paz ao sei da família brasileira. Que possam ser guias com inteira felicidade nos destinos das vidas das suas crianças.


Queira aceitar e transmitir à Excelentíssima Senhora, a quem beijo as mãos com o mais profundo respeito. Meus sinceros cumprimentos.



A BASE EM JAGUARY


Fazenda da Barra foi ocupada por tropas mineiras - Foto: Divulgação/PMJ
Fazenda da Barra foi ocupada por tropas mineiras - Foto: Divulgação/PMJ

Diferentemente da Santa Úrsula, a Fazenda da Barra, também em Jaguariúna, foi invadida por soldados que vinham de Minas Gerais, com a formação de um quartel de observação. Eles depredaram a fazenda e deixaram marcas que até hoje estão gravadas nas paredes da fazenda, como as frases pintadas no casarão, com palavras contra os paulistas e os soldados constitucionalistas.


O então Distrito de Jaguary fazia parte do setor Leste, chamado de Frente Mineira ou Zona Mogiana. O distrito foi muito importante e teve combates até o final dos conflitos.


A Revolução Constitucionalista, que se estendeu por quase três meses, de 9 de julho a 2 de outubro de 1932, foi a resposta de São Paulo à centralização do poder pelo então presidente Getúlio Vargas, e marcou o maior movimento cívico armado da história paulista.


Apesar da derrota militar, o movimento conquistou vitórias políticas, como a convocação da Assembleia Constituinte e a promulgação da Constituição de 1934.


PRESERVAÇÃO


Atualmente, Maria Abigail trabalha na manutenção e pesquisa de documentos que integram o acervo da família do Barão de Ataliba Nogueira. São inúmeras fotografias e dezenas de documentos de época. Muitos deles estão sendo preservados nos acervos da Casa da Memória Padre Gomes, um notável espaço destinado à recuperação e a preservação da memória de Jaguariúna.


O acervo da família inclui registros fotográficos raríssimos, feitos por um antigo guarda-livros apaixonado por fotografia, além de manuscritos e memórias de Camila Barbosa de Oliveira, neta do barão.


“A Fazenda Santa Úrsula é um patrimônio cultural e histórico, não apenas de Jaguariúna, mas do Brasil”, concluiu a historiadora.


コメント


Logo MJ.pdf (1).jpg
(19)991994219.jpg
Design sem nome (2).jpg
(19) 98602-1824.jpg
Design sem nome.jpg
Logo MJ.pdf.jpg

Jornalismo digital a serviço de Jaguariúna.

Notícias, conteúdos e publicidade.

  • Instagram
  • Facebook
  • YouTube
bottom of page